domingo, 7 de março de 2010

MS: médicos que brigaram durante parto trocam acusações



A prefeitura municipal de Ivinhema, cidade localizada a 345 quilômetros de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, anunciou que demitiu dois médicos que teriam trocado socos durante um trabalho de parto no hospital municipal da cidade. Segundo a prefeitura, a suposta briga e o atraso na cesariana teriam causado a morte do bebê na terça-feira.
A Delegacia de Polícia da Comarca de Ivinhema está investigando os responsáveis. A prefeitura destacou que colocou uma psicóloga à disposição da mãe da criança morta, Gislaine de Matos Rodrigues Santana. No comunicado, a administração municipal diz que informou oficialmente o Conselho Regional de Medicina do Estado (CRM) e instaurou auditoria médica municipal do Sistema Único de Saúde (SUS).

As imagens do arquivo da família mostram uma mãe feliz: Gislaine Rodrigues comemora os oito meses de gravidez. “Todo mês eu estava no meu pré-natal. Fiz um cursinho de três meses”, conta a mulher. Tanta alegria e tanto cuidado acabaram em desilusão. Quando entrou no hospital de Ivinhema, Gislaine foi levada para uma sala de parto. O médico dela, Orozimbo de Oliveira, acompanhava a gestante. Um outro médico, Sinomar Ricardo, chefe do plantão, achou errado que o parto fosse feito por Orozimbo, que não estava no plantão, e pediu ao obstetra que parasse de atender Gislaine. "Eu só vi quando o doutor Sinomar entrou e fechou a porta. Quando ele fechou a porta, eu vi que a porta abriu de uma vez. Daí, ele já entrou de pontapé e empurrão", descreve Gislaine.

De acordo com a paciente e com enfermeiros, os médicos se agrediram fisicamente até serem separados pela equipe de segurança do hospital. "Eu comecei gritar, pedia pelo amor de Deus. Estava com dor”, diz Gislaine. Outro cirurgião foi chamado para continuar o parto. "Eu fiz uma avaliação. Ela se encontrava muito nervosa, muito estressada", diz o médico Humberto Ferraz. A cesariana foi feita, mas a criança não resistiu. O Conselho Regional de Medicina vai apurar se houve falha no atendimento. A polícia também vai investigar o caso, um inquérito já foi aberto. “Trata-se de um crime de aborto doloso de forma eventual, em que os médicos parecem não terem se importado que aquela briga, aquela situação poderia levar ao óbito“, explica o delegado Lupércio Lúcio.

Um acusa o outro de erro no procedimento do parto. "Eu sou ginecologista obstetra e não entendi por que o doutor Orozimbo queria ativar um trabalho de parto que estava correndo tão bem", diz o médico Sinomar Ricardo. “Se você vê que as contrações não serão vigorosas o suficiente para proceder o parto, daí você entra com uma medicação acessória aumentando a contração uterina para que haja a expulsão do feto”, defende o médico Orozimbo Oliveira. Esta foi a primeira entrevista dada, depois da tragédia, pelo médico de Gislaine. “Eu cheguei para ele e disse nesses termos: - Doutor, pelo amor de Deus, eu estou na metade de um procedimento. Por favor, não me interrompa”, diz Orozimbo.

O processo no Conselho Regional de Medicina pode levar até seis meses para ser concluído, mas o que chamou a atenção do país foi a briga. Quem começou? "Se eu estou dentro da sala de parto, para fazer um parto, um cidadão mete o pé, abre a porta à força e agride o médico que lá dentro está, é fácil saber quem começou a briga", diz Sinomar Ricardo. “Foi ele fechando a porta. E ele ainda me deu um soco e eu não revidei o soco. Está claro que a briga começou ai.”, se defende Orozimbo. Sinomar, de 68 anos, confirma que impediu que Orozimbo fizesse o parto, mas diz que foi atacado pelo colega de trabalho. "A papeleta voou das minhas mãos e caiu. Eu fui pegar a papeleta e recebi uma saraivada de murros e pontapés". “Eu botei a mão na cabeça e disse: - Nós somos civilizados, doutor.Vamos parar. Por favor, saia da sala e vou continuar. Ele foi irredutível e disse: - Não saio, quem tem que sair é o senhor”, relata Orozimbo Oliveira. Orozimbo, de 49 anos, afirma que defendia o direito de a família escolher o médico: “Ninguém pode proibir o médico de trabalhar no hospital seja o horário que for”, fala. Gislaine e o pai do bebê Gilberto Cabreira voltaram para casa sem a filha. “Eu acho que faltou a base que falta em uma sociedade, às vezes. Faltou companheirismo, união, tolerância, pelo menos naquele momento. Porque nós estamos mexendo com vida. Nós estamos mexendo com vidas. Vocês fizeram um juramento para salvar vidas, não para tirar vida. Vocês fizeram o juramento para salvar vidas”, lembra o pai.

“Os médicos, se forem considerados culpados, serão penalizados e as penas podem variar desde uma advertência até a orientação para cassação do seu registro profissional”, afirmou Juberty Antônio de Souza, vice-presidente do CRM-MS.

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